10 de maio de 2012

Não serve pra mim.


Lembrar de você abafa o silêncio que ocupa o interior do meu carro. você se lembra da placa dele? Achei que tivesse facilidade para decorar números. Não é esse o seu truque para se vender atencioso? O vento da madrugada parece sólido e a cidade mais agressiva. O caminho de volta, apesar de gelado, não tem a nostalgia das minhas tardes depois das aulas do colégio. E me agrada do mesmo jeito, tudo mudou tanto, mas continuo sendo a menina sentada na cadeira dos bailinhos, daquelas que, ao ganhar a vassoura, não têm coragem de arrancar par nenhum. mesmo sonhando a semana toda com isso. Mas continuo gostando daquelas tardes. frio, chocolate e um livro, deitada na cama. Algo que nunca vou renunciar, soa tão egoísta, nunca - nem quando o próximo namorado tentar me arrastar para contemplá-lo no mar. Deverá agradecer já que de praia só gosto nesses dias cinzas, gelados, as ondas brigando para ver qual delas aparece mais, me deixe sozinha, não me acorde desse descanso, quero ver até onde você chega, porque o inverno está aí. É quando você decide que vai me chamar para a próxima dança. É quando o vento tenta socar a ponta do meu nariz e eu vou ter uma desculpa para usar roupas e postura discretas. É quando algum babaca vai se sentar do meu lado e achar que me leva pra casa, se prometer enternidade - se estiver sóbria, posso sorrir, mas vou continuar na minha cadeira tomando talvez aquele tinto seco que colore os meus dentes e que você odeia. Talvez olhe para a porta. e espere a sua entrada cheia de falsa humildade. Você ainda acha que convence alguém? O silêncio dentro do carro é cortado por um soluço, meu choro abortado. Que nenhuma lágrima ouse me contrariar - ainda pergunto por que teve de terminar assim - a esta altura eu deveria ter vergonha. Eu tenho. Eu quero fazer você parar. Eu não consigo. A sua ligação interrompe a tranquilidade de meu caminho de volta. Esquece, dessa vez não vou me levantar, a cadeira virou escolha. Ouvir a música daqui parece melhor. E ver a pista cheia já não me surpreende. Ver você no meio dela escolhendo o próximo amor próprio pra destruir já faz parte das nossas madrugadas. Prometo não te interromper com a minha vassoura. Não vou te privar do papel de ridículo, que só agora percebo, denunciado em uma frase vazia distorcida pela sua dicção embriagada. E quando sua cena não tiver mais graça – porque seu sorriso já não encanta como antes –  pago a conta e saio à francesa.

Diretamente do site:  Casal Sem Vergonha.

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