2 de outubro de 2012

Saudade é um bicho rebelde.


Texto de Jean Falcão.


A gente bem que podia escolher de quem devemos sentir saudade, né? Certamente decidiríamos por sentir falta daquelas pessoas que, caso voltassem a fazer parte das nossas vidas, trariam consigo a felicidade exatamente como há tempos atrás. Sem ressalvas.


Talvez seja justamente por insistir em acreditar que isso poderia acontecer num hipotético retorno, que o coração insiste em palpitar com a simples lembrança, quando sabemos, racionalmente, que a presença não seria tão salutar assim. Se fosse, por que teríamos nos afastado, então?

Mas é que, num impulso de nostalgia, e de querer pra sempre o que um dia foi bom (existe algo humanamente mais natural?) vez ou outra nos surpreendemos com os pensamentos distantes, e o coração palpita quando lembramos do cheiro, dos carinhos, dos gostos em comum, ou pura e simplesmente quando a janelinha do MSN resolve subir e a foto aparece. Pior ainda é quando ficamos frente a frente. A vontade de ter de volta logo se transforma em raiva. Raiva de si mesmo. Raiva de querer o que não deveria. É tudo culpa do tal do cativar, cujo significado foi o Pequeno Príncipe quem me ensinou. Na verdade, a culpa é dos que jamais entenderam aquele negócio de ser eternamente responsável pelo que se cativa.

(Como se atribuir culpa melhorasse as coisas, né? Ilusão boba.) 

Foi Drummond - olha ele de novo - que dia desses escreveu sobre como seria bom se pudéssemos escolher quais memórias devem ser guardadas e apagar as que, de uma forma ou de outra, por um ou outro motivo, não deveríamos alimentar. Dizia Marcelle, agora há pouco, numa das nossas rotineiras conversas por MSN, que devia existir um remédio para isso. Seja pela poesia, seja pela ciência, ainda são duas impossibilidades. Nessas horas, resta somente fazer coro ao Renato e cantar:

"♪♫E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração ♪♫"


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