Texto de Jean Falcão.
A gente bem que podia escolher de
quem devemos sentir saudade, né? Certamente decidiríamos por sentir falta
daquelas pessoas que, caso voltassem a fazer parte das nossas vidas, trariam
consigo a felicidade exatamente como há tempos atrás. Sem ressalvas.
Talvez seja justamente por insistir em acreditar que isso poderia acontecer num
hipotético retorno, que o coração insiste em palpitar com a simples lembrança,
quando sabemos, racionalmente, que a presença não seria tão salutar assim. Se
fosse, por que teríamos nos afastado, então?
Mas é que, num impulso de nostalgia, e de querer pra sempre o que um dia foi
bom (existe algo humanamente mais natural?) vez ou outra nos surpreendemos com
os pensamentos distantes, e o coração palpita quando lembramos do cheiro, dos
carinhos, dos gostos em comum, ou pura e simplesmente quando a janelinha do MSN
resolve subir e a foto aparece. Pior ainda é quando ficamos frente a frente. A
vontade de ter de volta logo se transforma em raiva. Raiva de si mesmo. Raiva
de querer o que não deveria. É tudo culpa do tal do cativar, cujo significado
foi o Pequeno Príncipe quem me ensinou. Na verdade, a culpa é dos que jamais
entenderam aquele negócio de ser eternamente responsável pelo que se cativa.
(Como se atribuir culpa melhorasse as coisas, né? Ilusão boba.)
Foi Drummond - olha ele de novo - que dia desses escreveu sobre como seria bom
se pudéssemos escolher quais memórias devem ser guardadas e apagar as que, de
uma forma ou de outra, por um ou outro motivo, não deveríamos alimentar. Dizia
Marcelle, agora há pouco, numa das nossas rotineiras conversas por MSN, que
devia existir um remédio para isso. Seja pela poesia, seja pela ciência, ainda
são duas impossibilidades. Nessas horas, resta somente fazer coro ao Renato e
cantar:
"♪♫E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração ♪♫"
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