1 de junho de 2012

Vovó Deni.


Maroquinha, Vovó Deni e Mainha.
Ontem, 31 de maio, foi o dia mais difícil que já vivi. A manhã tinha cara de fim. Os raios do sol não aqueciam, as flores retardavam o desabrochar diário - ontem, parecia não haver sentido em acordar, o dia amanheceu sem vida.

Ao chegar em Olinda - lugar de tantas alegrias, pela primeira vez chorei de saudade. Olhei a igreja em reforma e não encontrei graça naquele casamento tão esperado por ela. O carnaval quando chegar, não vai ter ela a me enfeitar, o Alto da Sé anda cheio de saudade do seu último aniversário... Olinda de tantas alegrias, me perdoe, mas, hoje, não tem Pitombeiras certa para me alegrar.

As horas pareciam não passar, o dia era longo e a minha volta tudo é saudade. Foi inevitável não lembrar os dias mais felizes. Seu sorriso era o sol dos nossos dias. Na hora que a senhora foi embora, Potyra tinha razão, o por do sol era tão lindo.

Sei que a vida segue e a nós cabe viver feliz e em paz, igualzinho a senhora ensinou, mas Vovó, me diga ai do céu, como é viver sem a senhora por perto? Será que viver é chegar aos 73 anos de idade sorrindo, colecionando histórias felizes e fazendo piada dos problemas?

Um dia uma menina fugiu para casar com o primo, entre confusões aqui e aculá, eles tiveram cinco filhos e ganharam o mundo. Em Correntes - interior de Pernambuco, nasceu o amor. Entre tantos endereços, Recife para ela era descrito assim: Recife é vida. Aqui eles formaram os filhos, mergulham felizes no mar, brincaram com os netos, bisnetos e na hora de partir ela foi para longe, afinal, Recife é vida.

Nos últimos dias ela morou no coração do Recife - Hospital Dom Pedro II. Lá ela fez a alegria de todos que tiveram a felicidade de conviver com ela. No hospital ela era só sorrisos e palavras de carinho para com todos. E todas as vezes que nos despedíamos, ao final de cada visita, entre abraços e beijinhos dizíamos palavras de carinho.

Emprestei um xale colorido que ela fazia questão de usar desfilando pelos jardins e corredores - na verdade o xale era um abraço meu para ela. No dia que meu coração ficou pequenininho ao vê-la começar sua partida comecei uma conversa ao pé do ouvido...

-Vozinha, lá fora está chovendo, João tá tão danado na escola, Alice jájá vai fazer dois aninhos...

E assim contava como estava a vida enquanto ela dormia com aqueles aparelhos. Certo dia a enfermeira deve ter pensado que sou maluca, cantei minha versão daquela música italiana que ela tão lindamente cantava, eu juro que ouvi a sua risada, a minha versão é muito mais animada.

Ontem, depois do longo dia, olhei as fotos espalhada pela casa e me lembrei dos dias de criança eu sempre corria para sua cama quando tinha um sonho ruim. Pena que o dia de ontem não foi um sonho ruim, ontem não havia a senhora para me acolher. Chorei tanto vovó. Abracei aquele xale colorido que ainda guarda o seu cheirinho e adormeci.

Acordei com uma certeza, é preciso viver intensamente e nunca negar um só sorriso. Hoje o céu estava bem lindo, o sol beijava Recife de uma ponta a outra, foi quando eu lembrei: Recife é vida! E a vida são os famíliares, os amigos, os nossos sonhos. Percebi que era preciso viver. Olhei para o céu e soltei um beijinho para senhora, depois, fui até sua casa e enchi de carinho aquele boyzinho que a senhora namorou por mais de cinquenta anos. Vovô Zezé é só saudade, mas fique tranquila, estamos cuidando bem dele.

Por fim, eu apenas queria que a senhora soubesse que te amo para sempre. Tenho certeza que entre nós duas foram ditas todas as palavras de carinho, por isso, minha bonitinha, meu coração saudoso de sua presença se alegra em saber que a senhora dorme em paz.

Obrigada, meu bem, por todo carinho. Vovó Deni, vou me esforçar para ser uma mulher doce; doce como a senhora.

Te amo para sempre.

Maroquinha.

2 comentários:

  1. Anne, que despedida tao linda
    estou emocionada com tanto amor
    tenha certeza que ela esta num
    lugar lindo e abençoado


    bjus querida

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  2. DESPEDIDA...
    Não devia existir,mas é a ordem natural da vida!Mas quando li a sua despedida,senti o amor mais puro e emocionante brotando de suas palavras!Anne ela deve estar sorrindo com essas palavras e dizendo a todos"olha como minha neta é porreta"!Quando se vai embora e deixa esses sentimentos de amor alegria e carinho...deve-se ter a sensação de missão cumprida...Como você mesma disse sorria para a vida e vá em frente!Mesmo que a saudade te doa infinitamente,jogue o beijinho a ela e diga:"Vovó tô indo,viver a vida como a senhora me ensinou com maestria,com a alegria de viver e dizer-lhe como é grande o meu amor por você,que nossos laços são eternos e por toda a minha vida vai me acompanhar"Anne que todos pudessem viver esse amor e ter a clareza de toda uma vida em uma despedida tão emocionante!Bjos

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