Essa moça

Certa vez alguém disse uma passagem bíblica para descrever seu sentimento após a separação de um casamento de cinco anos: “a verdade vos libertará”. Ela não é religiosa,  na época achou engraçado, hoje, percebe todo sentido, todo significado.

Para que fique clara a história de hoje, atente para a trajetória dessa moça.

Em um mês amou, confiou, fez a mala e partiu. Na mesma semana seu mundo caiu. Em uma noite ela não dormiu. Assim, pensou no que viverá até aquele instante e concluiu: “a verdade vos libertará”! Sim! Livre de todos aqueles sentimentos tolos de gente boazinha, bonitinha, queridinha... Tudo que ela não suporta. Enfim, tomou coragem e foi atrás do que era dela. Acreditar que existe beleza na imperfeição foi o primeiro passo. Olhou o espelho e, como se olhasse por uma janela, ela viu um mundo.

A moça, ainda bem mocinha, aprendeu historinhas de príncipes e princesas, a ela foi ensinado a brincar de casinha e seu esporte era o ballet. Hoje nem tão mocinha assim, ela ganhou o mundo. O mundo que não está nos mapas, o mundo que está dentro dela e que tem como ponto de partida seu coração.

Desistiu de lamentar, desistiu da terapia que nunca fez, pensa seriamente em voltar à academia, mas, só para manter aquele corpitcho bacana, nada de marombeira, nada de exageros, nada de excessos, especialmente o excesso do “nada”, do nada que ela trazia durantes anos para levar sabe-se lá para onde. Mais do que nunca, ela planeja seus passos.

Tudo que fizera ou dissera até aquele momento era repleto da mãe, das amigas, da tia, da mulher do lado, da outra... Nunca ela. Era hora de mudar.

Já fora da idade aprendeu a chamar palavras feias, os populares palavrões. Você pode até dizer: que feio! Mas para ela: libertário! Viveu sempre cheia de regras, cheia de limitações: isso pode isso não pode. Agora é ela que está cheia. Puta que pariu para quem acha isso ou aquilo, para quem se acha dono da verdade, ou inventa teorias baseadas nas suas sessões terapêuticas, espíritas, ‘baristícas’... Ela prefere ‘desligar a TV’ na hora da ‘sessão da tarde’ dessas filosofias egoístas que não servem para ninguém.  Ela prefere aquelas de porta de banheiro: “fulano ama beltrano”. 

A verdade agora é que ela dorme sossegada por dizer em todo momento o que vem do coração, e mesmo que ele chore,  se quebre todinho, ela faz como diz o samba: levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Embriagada de uma alegria que não saber ao certo de onde vem, essa moça segue a lição do dia-a-dia, ousaria dizer que entre tantas um filme, uma boa conversa e aquele vinho... Eureca! Achou o que tanto procurava? Será? Quem saberá? Equilíbrio! Equilíbrio! Equilíbrio! Onde você está?

Sem terapia, sem filosofia, só com um tantinho de curiosidade, ela vive tão encantada com esse novo mundo que já não sofre se o telefone não toca, tão pouco seu presente favorito é o luar - ela acha, inclusive, que quem quer saber da lua é São Jorge. Do luar quer apenas a luz para quando estiver em festas na beira do mar. Porém, mesmo cheia de razão e direito, não trás mágoas, resentimentos, ficou apenas com a lição: Assim como deixamos abertas as portas e disponíveis os sentimentos para receber a chegada de um amor, devemos deixar livre a passagem para que serenamente se vá quando chegada a hora.(Marina Colasanti) Ela acredita nisso.

Das amizades, bom, dessas ela continua querendo cuidar, sorrir e se precisar chorar junto, ela vai está de braços abertos mas, só se os amigos a quiserem por perto,claro! Do contrário, ela prefere as fotografias e as boas lembranças, nada mais. Ela pede: "Poupe-me de explicações monstruosas ou infeitiçada por bruxas, quero apenas o que me cabe".

Atravessar esses novos caminhos, dar novos passos, descobrir novas formas, sons e sabores são os planos dessa moça. Afinal, não há no mundo lei que possa condenar alguém que a um outro alguém deixou de amar, seja esse alguém amigo, pai, vizinho, parente, ou até mesmo aquele Pierrô. Não se pode perder de vista o caminho desse novo mundo que existe dentro de cada um. Isso não é uma verdade absoluta, é apenas a dela.